(Apagado o primeiro "Nuvens de Orvalho", e depois de grande interregno, surge esta segunda via, com o principal objectivo de não perder ou deixar ao abandono alguns dos trabalhos do anterior.)

09/02/2024

Às Vezes Há Nevoeiro

Às vezes há nevoeiro
Cerrado
Ou semidenso
Intransparência branca
Como seda de um lenço
Que acoberta vales
E montes
Ribeiros e fontes
Sonega ao olhar
Um pedaço de horizonte
É um manto
Uma parede
Um silêncio uma sede
Folha de papel em branco
Um braço que não se estende
Uma mão que não se sente
Uma luz que não se acende
Um eco que não se entende
É o sol que não se abre

(Publicado originalmente em 07/06/2011 no primeiro Nuvens de Orvalho)

09/01/2024

Instantes

Olho em torno de mim
Ervas, mato, giestas, pinheiros…
Carrascas caídas, pinhas, pedras…
Sol, nuvens, vento…

A natureza apela, chama, sussurra
A inebriante música das árvores
Canta calma e paz

O som do vento nas ramagens
Convida à contemplação
À reflexão
A esquecer a máquina do tempo

Os raios de sol
Sobre as pedras do outeiro
Me falam de Ti

(Publicado originalmente em 06/07/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

12/09/2023

Calem-se as palavras!

Calem-se as palavras
Ocas, vazias,
Desprovidas da razão.

Dúbias, enganosas,
Que picam no coração.

Audazes, mentirosas,
Que nos atiram ao chão.

De mel, mas venenosas...

Calem-se as palavras!
Quero fazer silêncio...

(Publicado originalmente em 25/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

23/08/2023

Silêncio

O silêncio plana
Em fresca brisa
E embala suavemente
Vocábulos por desenhar

Em baixo voo nocturno
Chove como melodia
Duma leveza dormente
Depondo ataraxia
De nardo em alabastro
Essência a flutuar

Fumo de aromas solene
Sopro de mãos feiticeiras
Anestesia da alma
Pérola de sonho e luar

Silêncio...
Arranco do teu piano
As notas para eu tocar

(Publicado originalmente em 29/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

14/07/2023

Fuga(z)


Perpasso 
Vidas sofridas
Artes escondidas
Caminhos
Atalhos
Retalhos de partidas
Longe
Que se faz perto
Perto
Tão perto que se distancia
Olhares em que se não via
Nem sol
Nem lua
Nem nada que sorria
Alvores perdidos
E uma foz que se anuncia

(Publicado originalmente em 08/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

26/06/2023

Arejo

Pensamentos profundos 
Um arranhar de sub-mundos
Visões 
Alucinações
Ilações
Um desabar de sensações
Que estremecem
E tecem
Teias
Marés cheias
Luas
E ruas
Ao som de batuques
Um ribombar
De tambores
Motores
A estalar
No ar
No mar
Eu e tu
Em mundos
Profundos

(Publicado originalmente em 03/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

21/06/2023

Apagar

Vou dominar um impulso
A alhear vou aprender
Cerro as janelas aos olhos
Corro as cortinas à mente
Coloco trancas à boca
Fecho à chave os ouvidos
Amarro os pés e as mãos
Quem sabe se sem conhecer
Sem caminhar e sem ver
Sem falar nem perceber
Sem ouvir o coração
Talvez faça muito mais
Do que acessar canais
E escute a voz da razão

(Publicado originalmente em 07/05/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)


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