(Apagado o primeiro "Nuvens de Orvalho", e depois de grande interregno, surge esta segunda via, com o principal objectivo de não perder ou deixar ao abandono alguns dos trabalhos do anterior.)

16/01/2025

Geada

Crepita o lume na lareira 
Há geada no quintal 
Lá fora aperta o frio
Cá dentro geme o meu rio

Não sei se é da chuva ou do vento
Calor não é de certeza
Muito embora brilhe o sol
Uma pessoa também se cansa

Cansam as rimas e a poesia
Cansam as canções e a música
A dança acelera o ritmo
Mas os acordes são os mesmos

Não sei se cante se cale
Se grite ou se me embale
Se fuja ou se me instale
Nem como enfrentar este mal

Publicado originalmente em 11/10/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho

09/01/2025

Apagar

Vou dominar um impulso
A alhear vou aprender
Cerro as janelas aos olhos
Corro as cortinas à mente
Coloco trancas à boca
Fecho à chave os ouvidos
Amarro os pés e as mãos
Quem sabe se sem conhecer
Sem caminhar e sem ver
Sem falar nem perceber
Sem ouvir o coração
Talvez faça muito mais
Do que acessar canais
E escute a voz da razão

(Publicado originalmente em 07/05/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)


08/01/2025

Arejo

Pensamentos profundos 
Um arranhar de sub-mundos
Visões 
Alucinações
Ilações
Um desabar de sensações
Que estremecem
E tecem
Teias
Marés cheias
Luas
E ruas
Ao som de batuques
Um ribombar
De tambores
Motores
A estalar
No ar
No mar
Eu e tu
Em mundos
Profundos

(Publicado originalmente em 03/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

07/01/2025

Aborrecimento

Estou aborrecida
Prostrada
Que foi que me aborreceu?

É este mundo
Uma fantochada
Onde se encontra cada figura
De uma imensa piada!

Cada pigmeu
Com ar de senhor doutor
Que para granjear um favor
Ou para ser engraçado
Se arma em gigante
Adamastor!

Um enfado
Sim, senhor.
E cá estou eu
A soltar um breve lamento
Sem conseguir pôr de lado
Um ar de aborrecimento.


Publicado originalmente em 19/10/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho 


16/12/2024

Lago de águas mansas

A minha alma é um lago
Tranquilo
Só soprado aqui e ali
Por brisas
Ligeiras
E ondeado ao de leve
Por alados motins
Dos seres que o habitam

Alimentam-no regatos
Sussurrantes
E beijam-no a luz
Das estrelas
E da lua cheia

Busca a cor nas flores das margens
E nas aves que o sobrevoam

Perfuma-se do nascer
E do pôr-do-sol

Enamora-se dos pingos da chuva
E do arco-íris nas nuvens

É espelho do Sol, que lhe dá a vida
Em dias de calmaria

Embora salpicado por neblinas
E temporais
É um lago
De águas mansas
A minha alma

(Publicado originalmente em 02/12/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho)

07/11/2024

Às Vezes Há Nevoeiro

Às vezes há nevoeiro
Cerrado
Ou semidenso
Intransparência branca
Como seda de um lenço
Que acoberta vales
E montes
Ribeiros e fontes
Sonega ao olhar
Um pedaço de horizonte
É um manto
Uma parede
Um silêncio uma sede
Folha de papel em branco
Um braço que não se estende
Uma mão que não se sente
Uma luz que não se acende
Um eco que não se entende
É o sol que não se abre

(Publicado originalmente em 07/06/2011 no primeiro Nuvens de Orvalho)

28/10/2024

A Chuva


Ah
A chuva
Essa primeira chuva de Outono
Na vidraça
Preguiça que é vontade
De não acordar ainda
Esse gosto de chuva
Na noite que finda e traz o dia
O cheiro a terra molhada
Que os sentidos inebria
Num sabor a paz
E ao mesmo tempo nostalgia

E o assobio do vento
Essa música de baile
Que faz dançar as folhas secas
Lá fora em rodopio
Soa cá dentro mais baixinho
Embalando este vagar
Devagarinho
No lusco-fusco da manhã fria
Que impele a estar no quente

Ah
mas a chuva
É mesmo a chuva
que me acalenta levemente

Publicado originalmente em 05/10/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho para: 

Fábrica de Letras


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