(Apagado o primeiro "Nuvens de Orvalho", e depois de grande interregno, surge esta segunda via, com o principal objectivo de não perder ou deixar ao abandono alguns dos trabalhos do anterior.)

16/11/2024

Arejo

Pensamentos profundos 
Um arranhar de sub-mundos
Visões 
Alucinações
Ilações
Um desabar de sensações
Que estremecem
E tecem
Teias
Marés cheias
Luas
E ruas
Ao som de batuques
Um ribombar
De tambores
Motores
A estalar
No ar
No mar
Eu e tu
Em mundos
Profundos

(Publicado originalmente em 03/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

15/11/2024

Às Vezes Há Nevoeiro

Às vezes há nevoeiro
Cerrado
Ou semidenso
Intransparência branca
Como seda de um lenço
Que acoberta vales
E montes
Ribeiros e fontes
Sonega ao olhar
Um pedaço de horizonte
É um manto
Uma parede
Um silêncio uma sede
Folha de papel em branco
Um braço que não se estende
Uma mão que não se sente
Uma luz que não se acende
Um eco que não se entende
É o sol que não se abre

(Publicado originalmente em 07/06/2011 no primeiro Nuvens de Orvalho)

14/11/2024

A Chuva


Ah
A chuva
Essa primeira chuva de Outono
Na vidraça
Preguiça que é vontade
De não acordar ainda
Esse gosto de chuva
Na noite que finda e traz o dia
O cheiro a terra molhada
Que os sentidos inebria
Num sabor a paz
E ao mesmo tempo nostalgia

E o assobio do vento
Essa música de baile
Que faz dançar as folhas secas
Lá fora em rodopio
Soa cá dentro mais baixinho
Embalando este vagar
Devagarinho
No lusco-fusco da manhã fria
Que impele a estar no quente

Ah
mas a chuva
É mesmo a chuva
que me acalenta levemente

Publicado originalmente em 05/10/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho para: 

Fábrica de Letras


24/10/2024

Apagar

Vou dominar um impulso
A alhear vou aprender
Cerro as janelas aos olhos
Corro as cortinas à mente
Coloco trancas à boca
Fecho à chave os ouvidos
Amarro os pés e as mãos
Quem sabe se sem conhecer
Sem caminhar e sem ver
Sem falar nem perceber
Sem ouvir o coração
Talvez faça muito mais
Do que acessar canais
E escute a voz da razão

(Publicado originalmente em 07/05/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)


20/10/2024

Lago de águas mansas

A minha alma é um lago
Tranquilo
Só soprado aqui e ali
Por brisas
Ligeiras
E ondeado ao de leve
Por alados motins
Dos seres que o habitam

Alimentam-no regatos
Sussurrantes
E beijam-no a luz
Das estrelas
E da lua cheia

Busca a cor nas flores das margens
E nas aves que o sobrevoam

Perfuma-se do nascer
E do pôr-do-sol

Enamora-se dos pingos da chuva
E do arco-íris nas nuvens

É espelho do Sol, que lhe dá a vida
Em dias de calmaria

Embora salpicado por neblinas
E temporais
É um lago
De águas mansas
A minha alma

(Publicado originalmente em 02/12/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho)

13/08/2024

Ensaio de poema quente


Pensei em escrever um poema quente como o Verão
Feito de rimas ricas em cachos de luar
Em que incessante falasse de calor e de amor
Mas uma lágrima tentou matreira espreitar

Em vez de calor e lua cheia
A mente abalou até outras paragens
Flutuou ao sabor de outras aragens
E se enredou toda numa teia

E mesmo se ao sonho eu sou dada
Quer esteja muito ou pouco inspirada
Sorvo aquela nuvem que me atinge
E padeço o universo da esfinge

E respiro, inspiro, suspiro, transpiro
E uma dor de cabeça me abate como um tiro
Febre de um Verão de jeito incerto
Ou de agachado Inverno olhado perto

(Publicado originalmente em 24/06/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

21/06/2024

Venenos


De fumo se veste
De noite o dia
Veneno melado
Que a pele arrepia

Sem lei nem pudor
Perdeu-se a vergonha
Em estufa se criam
Bichos com peçonha

Mordem e injectam
Veneno que atordoa
Que dá sonolência

Dá náuseas e vómitos
Descargas eléctricas
Ou causa dormência

(Publicado originalmente em 31/10/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho)

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