(Apagado o primeiro "Nuvens de Orvalho", e depois de grande interregno, surge esta segunda via, com o principal objectivo de não perder ou deixar ao abandono alguns dos trabalhos do anterior.)

22/03/2025

Palavras

Querem verter-se as palavras
No vórtice do silêncio
Como quem se despe nos versos
Que encerram um poema
Mas o silêncio confrangido e nu
Vestido só do frio que o atinge
Por mais que sinta perto
As palavras que voam no vento
Não as pode comportar
E num gesto gelado e doente
Repele-as cobardemente
Ficando a vê-las pairar

Publicado originalmente em 16/12/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho

09/02/2025

Foi o frio

Foi o frio que me fustigou
E me vai impelindo ao quentinho

Mesmo se tu és o meu abrigo
E os teus braços o meu ninho
Os teus olhos sedução
Os teus lábios o meu vinho…

O frio marcou presença
Ditou a sua sentença
Emudeceu a caneta
Secou a inspiração
Deixou-me à espera do verão

Publicado originalmente em 03/02/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho 

16/01/2025

Geada

Crepita o lume na lareira 
Há geada no quintal 
Lá fora aperta o frio
Cá dentro geme o meu rio

Não sei se é da chuva ou do vento
Calor não é de certeza
Muito embora brilhe o sol
Uma pessoa também se cansa

Cansam as rimas e a poesia
Cansam as canções e a música
A dança acelera o ritmo
Mas os acordes são os mesmos

Não sei se cante se cale
Se grite ou se me embale
Se fuja ou se me instale
Nem como enfrentar este mal

Publicado originalmente em 11/10/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho

21/11/2024

Aborrecimento

Estou aborrecida
Prostrada
Que foi que me aborreceu?

É este mundo
Uma fantochada
Onde se encontra cada figura
De uma imensa piada!

Cada pigmeu
Com ar de senhor doutor
Que para granjear um favor
Ou para ser engraçado
Se arma em gigante
Adamastor!

Um enfado
Sim, senhor.
E cá estou eu
A soltar um breve lamento
Sem conseguir pôr de lado
Um ar de aborrecimento.


Publicado originalmente em 19/10/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho 


28/10/2024

A Chuva


Ah
A chuva
Essa primeira chuva de Outono
Na vidraça
Preguiça que é vontade
De não acordar ainda
Esse gosto de chuva
Na noite que finda e traz o dia
O cheiro a terra molhada
Que os sentidos inebria
Num sabor a paz
E ao mesmo tempo nostalgia

E o assobio do vento
Essa música de baile
Que faz dançar as folhas secas
Lá fora em rodopio
Soa cá dentro mais baixinho
Embalando este vagar
Devagarinho
No lusco-fusco da manhã fria
Que impele a estar no quente

Ah
mas a chuva
É mesmo a chuva
que me acalenta levemente

Publicado originalmente em 05/10/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho para: 

Fábrica de Letras


13/08/2024

Ensaio de poema quente


Pensei em escrever um poema quente como o Verão
Feito de rimas ricas em cachos de luar
Em que incessante falasse de calor e de amor
Mas uma lágrima tentou matreira espreitar

Em vez de calor e lua cheia
A mente abalou até outras paragens
Flutuou ao sabor de outras aragens
E se enredou toda numa teia

E mesmo se ao sonho eu sou dada
Quer esteja muito ou pouco inspirada
Sorvo aquela nuvem que me atinge
E padeço o universo da esfinge

E respiro, inspiro, suspiro, transpiro
E uma dor de cabeça me abate como um tiro
Febre de um Verão de jeito incerto
Ou de agachado Inverno olhado perto

(Publicado originalmente em 24/06/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

21/06/2024

Venenos


De fumo se veste
De noite o dia
Veneno melado
Que a pele arrepia

Sem lei nem pudor
Perdeu-se a vergonha
Em estufa se criam
Bichos com peçonha

Mordem e injectam
Veneno que atordoa
Que dá sonolência

Dá náuseas e vómitos
Descargas eléctricas
Ou causa dormência

(Publicado originalmente em 31/10/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho)

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