(Apagado o primeiro "Nuvens de Orvalho", e depois de grande interregno, surge esta segunda via, com o principal objectivo de não perder ou deixar ao abandono alguns dos trabalhos do anterior.)

13/08/2024

Ensaio de poema quente


Pensei em escrever um poema quente como o Verão
Feito de rimas ricas em cachos de luar
Em que incessante falasse de calor e de amor
Mas uma lágrima tentou matreira espreitar

Em vez de calor e lua cheia
A mente abalou até outras paragens
Flutuou ao sabor de outras aragens
E se enredou toda numa teia

E mesmo se ao sonho eu sou dada
Quer esteja muito ou pouco inspirada
Sorvo aquela nuvem que me atinge
E padeço o universo da esfinge

E respiro, inspiro, suspiro, transpiro
E uma dor de cabeça me abate como um tiro
Febre de um Verão de jeito incerto
Ou de agachado Inverno olhado perto

(Publicado originalmente em 24/06/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

21/06/2024

Venenos


De fumo se veste
De noite o dia
Veneno melado
Que a pele arrepia

Sem lei nem pudor
Perdeu-se a vergonha
Em estufa se criam
Bichos com peçonha

Mordem e injectam
Veneno que atordoa
Que dá sonolência

Dá náuseas e vómitos
Descargas eléctricas
Ou causa dormência

(Publicado originalmente em 31/10/2009 no primeiro Nuvens de Orvalho)

26/04/2024

Transparência

 

Abre a janela
Deixa entrar a luz do dia
Essa transparência branca
Que alumia na manhã
Clara magia
Inspira fundo e absorve-a
Observa-a sente-a
Deixa que se troque de ares contigo
Te sorria e te alimente a fantasia
Respira a luz que te cega
Esse piscar de olhos
Esse mar transparente e sorridente ar
Ainda que tímido e leve
Deixa que te leve ao coração a Luz Maior
Que é energia é poesia é cor
A maior transparência que é Vida
E a Verdade e Todo Amor 

Publicado originalmente em 24/11/2010 no primeiro Nuvens de Orvalho para:


11/03/2024

Um Ar

Um rebanho de ovelhas e cordeiros a pastar 
Um negro corvo passeia-se no meio da vegetação
O sol que incide em todos os seres e os faz brilhar
A água do campo a espelhar o sol em oração
Um bando de passarada miúda pousa no relvado
Levanta voo o corvo até ao canavial
O vento na folhagem a dar a dar
A roupa a corar no estendal
E o corvo que mostra o seu grasnar
As laranjeiras carregadas de laranjas apetitosas
O gato que afia as unhas no pilar
O cão deitado em cima da sua casota
E os sentidos afinados a esta peregrinação
Há um ar de Primavera no ar

(Publicado originalmente em 23/02/2011 no primeiro Nuvens de Orvalho)

25/01/2024

Instantes

Olho em torno de mim
Ervas, mato, giestas, pinheiros…
Carrascas caídas, pinhas, pedras…
Sol, nuvens, vento…

A natureza apela, chama, sussurra
A inebriante música das árvores
Canta calma e paz

O som do vento nas ramagens
Convida à contemplação
À reflexão
A esquecer a máquina do tempo

Os raios de sol
Sobre as pedras do outeiro
Me falam de Ti

(Publicado originalmente em 06/07/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

21/10/2023

Negrura

O clarão ilumina a noite
monstro algoz
como ladrão que pela calada
da noite pesada de sono
rouba e chacina
domina a treva
pavor irrompe e pranto
sem manto que valha na dor
Depois é tarde
é manhã cedo
e o medo dá lugar
ao tremor das pernas
as mãos não sabem
mandar o corpo
não obedece
aquece o dia
a melodia é escura
que se pega
entranha
tamanha essa cor
o odor é fumo
é cinza
é pó
é negro
é dó


(Publicado originalmente em 28/11/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

12/09/2023

Calem-se as palavras!

Calem-se as palavras
Ocas, vazias,
Desprovidas da razão.

Dúbias, enganosas,
Que picam no coração.

Audazes, mentirosas,
Que nos atiram ao chão.

De mel, mas venenosas...

Calem-se as palavras!
Quero fazer silêncio...

(Publicado originalmente em 25/04/2008 no primeiro Nuvens de Orvalho)

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